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Por que os missionários vão a lugares perigosos

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Por Jerry Rankin

No passado, as agências missionárias e as igrejas de envio podiam identificar lugares onde os missionários poderiam estar em risco. A maioria foi para países que os acolheram e, em geral, eram receptivos ao evangelho; lá eles podiam contar com segurança e um estilo de vida saudável, enquanto trabalhavam com igrejas em países em desenvolvimento. Infelizmente, essa não é mais a norma.

Durante meus dezessete anos como presidente da Junta de Missões Internacionais, nunca me acostumei aos funerais. A morte não era necessariamente o resultado de violência ou do testemunho cristão de um missionário. Os missionários sucumbem a enfermidades, morrem em um roubo ou acidente de carro enquanto viajam em uma estrada perigosa. Alguns estavam no lugar errado quando uma bomba terrorista explodiu em um centro comercial ou foram pegos em uma multidão de manifestantes antiamericanos. Mas houve aqueles que foram atacados porque se atreveram a proclamar a verdade do evangelho em um ambiente hostil.

Vivemos em um mundo perverso e caído. Onde a luz do evangelho não foi proclamada e os povos e culturas são escravizados pelo deus deste mundo. Seja na forma de visões de mundo, religiões hostis, políticas governamentais restritivas, guerras étnicas e violência, ou elementos criminosos na sociedade, Satanás representa uma ameaça formidável para aqueles que procuram fazer dos reinos deste mundo o reino de nosso Senhor.

No entanto, Apocalipse 12:11 nos oferece a chave para vencer o maligno. “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida”. Cristo nos assegurou a vitória pelo seu sangue derramado. 1 João 5:4 nos instrui: “e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”, e essa fé se expressa no testemunho que confessamos. Mas a vitória final se obtém ao não nos apegarmos à própria vida, nem mesmo diante da morte!

Por que os missionários se colocariam em perigo? Aqui estão quatro razões pelas quais os missionários estão dispostos a ir a lugares perigosos.

  1. O desejo de fazer a diferença pela eternidade

Em 30 de dezembro de 2002, três missionários foram assassinados por um pistoleiro em um hospital batista no Iêmen. A resposta do público, e até mesmo das igrejas, foi uma demanda para levar os missionários para casa. Alguns o caracterizaram como um trágico desperdício de suas vidas. A mídia exigiu saber por que poderíamos ser tão irresponsáveis ao permitir que o pessoal fosse a lugares onde poderiam ser assassinados.

Mas foram um desperdício os mais de vinte anos em que Bill Koehn e Martha Myers derramaram suas vidas no ministério e o que testemunharam? Não vale a pena o custo das sementes do evangelho que crescem e eventualmente florescem entre um povo não alcançado? Certamente, é apropriado orar pela saúde e segurança dos missionários, mas quando isso se torna nossa primeira preocupação, distorcemos radicalmente o chamado de nosso Senhor, que disse que ser seu discípulo era um chamado para negar-se a si mesmo, para tomar a cruz e morrer.

Na impressionante lista de pessoas de fé em Hebreus 11, esses heróis da fé foram caracterizados no versículo 38 como “homens dos quais o mundo não era digno”.

Os missionários vão a lugares de perigo por causa do evangelho porque resolveram não viver para o conforto, a segurança e o sucesso deste mundo. Ao contrário, entregaram suas vidas para fazer a diferença pela eternidade. Como os missionários dos séculos anteriores que deixaram as comodidades do Ocidente com seus pertences empacotados em caixões porque não esperavam voltar de terras devastadas por enfermidades, nossos enviados hoje levam a esperança eterna do evangelho a pessoas em escuridão espiritual porque obedecer ao Senhor Jesus Cristo em Sua Grande Comissão vale a vida.

  1. Obediência ao chamado de Cristo

Na década de 80, os radicais muçulmanos haviam lançado o Líbano no caos. Em uma guerra civil prolongada, na qual norte-americanos foram sequestrados, o Departamento de Estado dos EUA ordenou a evacuação de todos os norte-americanos. Neste caso, os missionários foram levados para casa, embora quisessem ficar e continuar seu ministério. Não estavam preocupados com sua própria segurança, mas queriam permanecer fiéis à sua vocação.

Em uma situação mais recente, onde prevalecia a anarquia e o pessoal norte-americano não essencial estava sendo evacuado, um missionário informou sua família e à IMB que não partiriam. Eram considerados pessoas essenciais. Não podiam desobedecer ao chamado de Deus por respeito à sua própria segurança, especialmente porque o caos e as incertezas criavam grandes oportunidades para testemunhar o Evangelho.

O pessoal militar é treinado para obedecer a ordens, sem importar o perigo. Vão facilmente a zonas de guerra por uma devoção patriótica, sem ter em conta se é seguro fazê-lo. Os cristãos também não devem considerar opcional obedecer às ordens de nosso Comandante-em-Chefe, Jesus Cristo, que nos disse para ir e fazer discípulos de todas as nações. Não qualificou esse mandato para ir só aonde se pode testemunhar sem oposição ou risco.

  1. A irresistível realidade das pessoas sem Cristo

Os missionários estão dispostos a encarar o perigo e a oposição para levar o evangelho aos povos não alcançados porque compreendem as consequências da perda. Tenho destacado frequentemente a tragédia da condenação ao contabilizar o tsunami na Ásia em 2004, quando quase um quarto de milhão de pessoas foram varridas para o inferno. Sua perda não foi por terem rejeitado Jesus Cristo, mas porque, como pecadores, nunca haviam ouvido que Ele “é o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6). Esse foi apenas um evento. Todos os dias, pessoas em todo o mundo morrem sem Cristo. A realidade dos perdidos nos força a dar nossa vida e partir (Rm 10:13).

  1. Paixão pela glória de Deus entre as nações

Insistir que os missionários evitem lugares perigosos é depreciar a perda de um mundo sem Cristo, degradar a responsabilidade da obediência ao chamado de Deus e sucumbir a um intrincado sistema de valores, que diz que a segurança e o conforto de alguém são uma prioridade maior do que compartilhar o Evangelho. Mas a razão fundamental pela qual não é apenas apropriado e sim essencial que os missionários vão a lugares de risco e estejam dispostos a morrer para tornar o evangelho conhecido é a paixão que prevalece pela glória de Deus entre as nações.

Karen Watson foi uma das quatro integrantes da equipe missionária assassinada em um ataque terrorista no Iraque em 2004. Com o coração quebrantado pelo sofrimento do povo iraquiano, ela renunciou a seu trabalho, vendeu sua casa e seu automóvel, doou a maior parte de seus pertences e foi àquele país devastado pela guerra para ministrar ao povo. Conhecendo o risco, escreveu uma carta para deixar com seu pastor para que a abrisse e lesse se algo acontecesse e ela não regressasse.

A carta de duas páginas, escrita à mão, começava: “Se acontecer algo e eu não voltar, não há arrependimento, porque estou com Jesus”. Ela continuava dizendo: “Meu chamado é à obediência, o sofrimento é esperado, sua glória é minha recompensa”. Ela repetiu e sublinhou duas vezes: “Sua glória é minha recompensa”.

Por que os missionários vão a lugares perigosos e até se arriscam a morrer? Estão obrigados a isso porque há pessoas perdidas e que ainda não ouviram a esperança do Evangelho. Estão dedicados ao senhorio de Cristo, à obediência a seu chamado e ao desejo de fazer a diferença pela eternidade. Não vivem para seu próprio conforto, segurança e conveniência, mas para a glória de Deus entre as nações.

Jerry Rankin serviu por dezessete anos como presidente do IMB antes de se aposentar em 2010, no Mississippi, onde continua a apoiar o trabalho missionário, a mobilizar e a atuar como professor adjunto em várias universidades e seminários. Anteriormente, serviu com sua família no Sul e Sudeste Asiático durante vinte e três anos, incluindo a plantação de igrejas na Indonésia e como diretor do IMB na área do Sul e Sudeste Asiático.

Fonte: International Mission Board