Por Wayne Chen
Temos subestimado o poder de uma perspectiva eterna no ministério?
A série de televisão Band of Brothers, sobre a Segunda Guerra Mundial, capta uma conversa entre um tenente de combate e um soldado amedrontado, agachado em uma trincheira.
Você se escondeu nesta vala porque crê que ainda há esperança. Mas a única esperança que você tem é aceitar o fato de que já está morto. Quanto mais cedo você aceitar, mais cedo você poderá agir como se espera que um soldado aja, sem piedade, sem compaixão, sem remorso. Toda a guerra depende disso.
Diante de perspectivas impossíveis e de um medo avassalador, o tenente sustenta que o medo é a única motivação funcional para um soldado desanimado.
O campo missionário é muitas vezes descrito como um campo de batalha para almas perdidas. Qual é nossa motivação nesta guerra? Certamente uma é a esperança do céu.
Deus confiou a Grande Comissão à igreja local e a seus membros. Para levar o evangelho aos grupos étnicos não alcançados, enfrentamos dificuldades esmagadoras, uma oposição constante e um perigo incessante. O que colocamos em nosso tanque determina até onde iremos.
Aqui estão três razões pelas quais a esperança do céu deveria impulsionar as missões.
- A esperança do céu estabelece a urgência do trabalho missionário
O céu é real. O inferno também. Ambos alimentam e mobilizam nossos esforços missionários.
Minha família serviu como plantadores de igrejas entre um grupo tribal não alcançado no Pacífico Sul. Após quatro anos de estudo da língua e da cultura, nossa equipe apresentou o evangelho à tribo em 2012. Vários meses após o nascimento da igreja, os crentes tribais de primeira geração enfrentaram um dilema: como deveriam chamar a si próprios? A palavra “cristão” não existia na língua tribal. Após muita discussão, eles decidiram chamar-se “o povo vivo”. Os não crentes, por sua vez, eram chamados de “pessoas mortas”. Ao longo dos anos, estes crentes tribais se sentiram motivados a compartilhar o evangelho com seus parentes tribais, pois sua língua os lembrava que estes parentes estavam “mortos” espiritualmente.
Estes crentes tribais compreenderam que o povo de Deus está “verdadeiramente vivo”. O evangelho não simplesmente melhora nosso status socioeconômico ou nos ajuda a “virar uma nova folha” moralmente. A cruz muda nossa posição diante de um Deus santo: somos ressuscitados da morte para a vida. Mediante a justiça imputada de Cristo, o evangelho nos dá o deleite eterno da glória de Deus no céu.
Mas o oposto do céu não é sua ausência; é uma presença ativa no inferno. Os cristãos, às vezes, hesitam em ver o medo do inferno como uma motivação para o trabalho missionário. Certamente e em última instância, missões são sobre a notoriedade e glória de Deus entre todas as nações. Mas a realidade do inferno é uma motivação legítima. Regozijar-se na esperança do céu sem reconhecer a realidade do sofrimento eterno é ingênuo, na melhor das hipóteses, e uma distorção do evangelho, na pior das hipóteses. A realidade tanto do céu como do inferno estabelece a urgência da obra missionária.
- A esperança do céu assegura a centralidade do evangelho
Vivemos em uma época em que tudo sob o sol é chamado de missões. Cavando poços na África? Iniciando um programa de café da manhã em Mumbai? Exercendo o ministério da misericórdia para “mostrar o amor de Jesus”? Tudo isso é trabalho missionário, no intricado pensamento evangélico de hoje. É claro que nenhum desses ministérios está errado. Os ministérios de misericórdia ajudam os missionários a entrar estrategicamente e ganhar credibilidade em ambientes hostis. Mas, em última análise, a obra missionária visa à proclamação do evangelho que resulte em igrejas saudáveis. Tudo o que fazemos no campo missionário deve ser feito com esse objetivo em mente.
Quando digo que a esperança do céu assegura a centralidade do evangelho, estou sugerindo que uma teologia adequada do céu nos lembra que missão não se trata de construir o céu na terra, mas de reconciliar pessoas pecadoras, quebradas e espiritualmente mortas com seu Criador, Deus. Em Cristo, o Reino dos Céus entrou neste mundo caído. Mas não estamos tentando criar uma utopia terrena. Uma utopia sem Cristo na terra não salva ninguém. É por isso que devemos continuar pregando o evangelho, e a esperança do céu nos mantém focados nessa tarefa (Apocalipse 7:10).
A esperança do céu também nos ensina que “mostrar o amor de Jesus” exige que proclamemos Seu maior ato de amor – a cruz! João 14:6 pinta o caminho para o céu com exclusividade não negociável. Ninguém chega ao céu sem Jesus, sem sua cruz sangrenta e sua tumba vazia. “Mostrar o amor de Jesus” sem explicar seu maior amor esconde o poder do evangelho.
O céu importa. Uma visão clara do céu nos leva de volta à centralidade da cruz de Cristo e da ressurreição em tudo o que fazemos no trabalho missionário.
- A esperança do céu nos ensina a sofrer bem
A principal razão do esgotamento dos missionários não é o coração endurecido dos não alcançados, mas a falta de preparação dos missionários para o sofrimento. Muitos obreiros não estão preparados para uma vida de alto estresse. Não estão preparados para a tensão em seu casamento, com seus filhos e em todos os seus relacionamentos.
Uma inadequada consideração do céu amplia estas dificuldades. Mas aqueles que querem levar o evangelho aos não alcançados devem preparar-se para o sofrimento, e uma das melhores maneiras de fazer isso é começar agora a meditar sobre a esperança do céu.
Paulo contrastou sua “leve e momentânea tribulação” com o “eterno peso de glória” (2 Coríntios 4:17). O sofrimento chega. As dificuldades doem. As provas nos desgastam. A longa lista de aflições de Paulo em 2 Coríntios 11:23-28 realmente aconteceu e doeu. A única razão pela qual Paulo pode colocar estes sofrimentos em uma caixa etiquetada como “leve e momentânea” é porque ele esperava “aquele Dia” em que receberá sua recompensa (2 Timóteo 4:8). Nossa esperança do céu nos lembra o que é temporário e o que é eterno. A esperança do céu nos ajuda a sofrer bem porque nossos olhos estão mais fixos “naquele Dia” do que no “hoje”.
A esperança do céu nos motiva a seguir em frente. A esperança do céu, tanto para nós como missionários como para aqueles que queremos alcançar com o evangelho, impulsiona nosso trabalho. Então podemos dizer com certeza que vamos até os confins da terra porque cremos que sempre há esperança. Cada pessoa do planeta viverá para sempre. Quanto mais cedo aceitarmos essa realidade, mais cedo perseguiremos o trabalho missionário com urgência, foco e perseverança.
Wayne Chen tem Mestrado em Divindade pelo Seminário Teológico Gordon-Conwell e foi pastor no norte da Califórnia antes de ir para o campo missionário. Wayne agora atua como diretor da Radius Asia.
Fonte: https://www.abwe.org