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Ficar ou ir: Quanto tempo um missionário deve servir em um só lugar?

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Por Todd Jamison

Às vezes é quase embaraçoso. Noto as sobrancelhas levantadas, e em geral, são seguidas por uma expressão de “Uau!” ou “Sério?” É normalmente acompanhada de um elogio, mas, de vez em quando, me pergunto o que realmente estão pensando. Refiro-me à reação que outros tem depois de me perguntarem quanto tempo eu servi na cidade da Ásia Central, onde vivo. Estou de acordo; vinte e quatro anos é muito tempo, especialmente no mesmo lugar entre o mesmo grupo de pessoas.

Padrão bíblico?

À medida que Deus redime um povo para si mesmo de toda língua, tribo e nação (Apocalipse 5:9-14), às vezes Ele o faz usando pessoas que vão e vêm por períodos curtos, como Filipe com o eunuco etíope em Atos 8:26-40. Às vezes, Deus coloca os obreiros em um lugar para realizar uma parte da tarefa, usando um dom ou personalidade em particular, como fez com Paulo plantando e Apolo regando a semente do evangelho semeada nos corações dos coríntios (1 Co 3:5-9).

Mas, devo admitir, às vezes me pergunto se existe um padrão bíblico para que um missionário permaneça em um lugar com um só povo durante muito tempo. Alguns tem apontado a vida e o ministério de Paulo como um modelo para não permanecer em um só lugar e, em vez disso, estar sempre em movimento.

Conheci vários de meus companheiros que, como o grande apóstolo, contra sua vontade e com grande angústia, tiveram de partir por causa da expulsão de suas atividades missionárias. Em geral, isso implicava uma ordem frenética sobre seus assuntos e o pagamento de uma taxa exorbitante pelas passagens de avião de última hora. Tais partidas, com frequência, eram acompanhadas de uma dor extrema, por deixar para trás novos amigos e entes queridos. Entretanto, ao ler sobre as atividades de Paulo no Novo Testamento, parece que ele permanecia parado até que seus perseguidores o alcançassem.

Deus tem um plano, não um padrão

Por mais que queiramos encontrar um padrão sobre como realizar a tarefa de cumprir a Grande Comissão, parece que Deus, na verdade, pode ter um plano específico para cada um de nós, em vez de um padrão. Lembre-se de João 21, quando Pedro perguntou a Jesus sobre João, seu companheiro apóstolo. Jesus disse que a vida de João era assunto dele (João 21:22).

Nossa natureza humana parece levar-nos a sempre comparar e a olhar para os outros. Queremos ter certeza de que “fazemos bem” e até mesmo, muitas vezes, com um infeliz espírito de competição, de “fazermos melhor”. Isto é certo, inclusive ao calcular quanto tempo devemos permanecer em um lugar específico no campo missionário.

Nestes tempos, são valorizadas a velocidade e a eficiência. Entretanto, o Deus eterno, que domina todo o tempo e o espaço, examina mais profundamente os motivos de nosso coração. A pergunta adequada para o obreiro missionário não é realmente: “Quanto tempo eu fico?”, mas sim: “Como faço o trabalho durante o tempo que Deus quer que eu fique?”.

Embora isto certamente não seja exaustivo, creio que é útil considerar três princípios para orientar o “como” da pessoa que se dedica a levar o evangelho e a fazer discípulos entre os não alcançados.

Amar profundamente

As pessoas não são projetos, portanto, não devemos tratá-las dessa forma. Em alguns de meus primeiros anos no campo, eu tinha um plano e queria trabalhar nesse plano. Oh, como me senti frustrado quando as pessoas a quem meu plano se dirigia simplesmente não cooperavam! Realmente não era culpa delas, elas eram as pessoas perdidas, doentes pelo pecado, separadas do amor de Deus, como todos nós éramos antes que Jesus desse um passo para nos libertar. Minha abordagem muitas vezes envolvia querer atingir um objetivo antes que o amor entrasse em cena.

Novamente, o exemplo de Paulo deveria ser o nosso. Ele disse aos crentes de Tessalônica (um lugar onde Paulo ficou umas poucas semanas, antes que a expulsão terminasse sua estada lá) o seguinte: “Assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amado de nós” (1 Ts 2:8). Paulo e sua equipe certamente proclamaram o evangelho, mas se asseguraram de que o aroma do amor através da ação os acompanhasse na tarefa.

Manter-se conectados

O evangelho avançou entre mais povos não alcançados nos últimos vinte e cinco anos do que nos últimos duzentos anos antes disso. Os servos de Deus podem ser encontrados em quase todos os cantos do mundo, em lugares extremos e perigosos. Realmente nunca saberemos se hoje será o último dia em nosso país de serviço. Mas, se tivermos que partir, é importante permanecer conectados com amigos e vizinhos crentes e incrédulos de lá, do local onde servimos.

Os apóstolos, muitas vezes, fugiam de um lugar para outro, mas mantinham suas conexões com as igrejas que plantaram, escrevendo cartas. Mais de um terço de nosso Novo Testamento não existiria se pessoas como Paulo, Pedro, João e Judas não encorajassem os jovens cristãos de seus antigos campos de serviço. Hoje, na era da comunicação instantânea, isto é mais fácil do que nunca, mas ainda requer disciplina e intencionalidade para se manter em contato.

Obedecer

Este prinipio final é realmente a base de tudo o mais em nossas vidas. Onde quer que estejamos, busquemos conhecer e obedecer a vontade de Deus. Não somos nossos e sim filhos adotivos do rei, comprados pelo sangue de seu amado Filho. Se ele diz “vamos”, vamos. Se diz “fiquem”, nós ficamos.

Cada vez que minha esposa e eu retornamos aos Estados Unidos, sempre reservamos um tempo para pedir ao Senhor que reafirme seu chamado. Em todas as vezes ele disse para voltar. Então, voltamos. Não com temor, mas com alegria e com o desejo de agradar ao que nos salvou. Por quanto tempo? Isso realmente não está em nossas mãos. Como? Como discípulos obedientes.

No final, prepare-se para o longo prazo, mas confie o tempo ao Senhor, que o controla.

Todd Jamison trabalhou durante vinte e quatro anos na Ásia Central com sua esposa e quatro filhos.

Fonte: International Mission Board