Por David Platt
Sozinho em uma casa de hóspedes na base do Himalaia, me vi de joelhos, de cara para o chão, soluçando. Ao meu redor estavam as provas da minha última semana: uma mochila, bastões e botas de montanha. Eu tinha acabado de terminar uma viagem de uma semana por algumas das montanhas mais altas do mundo e estava a poucas horas de pegar um voo de retorno aos Estados Unidos.
Mas eu não havia planejado terminar minha viagem com lágrimas fora de controle.
Até aquele dia, eu podia contar em uma mão a quantidade de vezes que havia chorado em minha vida adulta. A última vez que chorei foi no dia em que recebi o telefonema de que meu pai havia morrido de um ataque cardíaco repentino. Mas este dia em uma casa de hóspedes asiática foi diferente. Desta vez eu não estava chorando porque me faltava alguém ou mesmo algo. Em vez disso, eu chorava incontrolavelmente pelo que outros, homens, mulheres e crianças que conheci na semana anterior, não tinham. Coisas como água, comida, membros da família, liberdade e esperança. Eu ansiava tanto que eles tivessem essas coisas, que eu não pude evitar isso. Caí no chão, soluçando, e as lágrimas não paravam de rolar.
Olhando para trás naquele dia na casa de hóspedes, me perguntei porque estar tão abalado por outros necessitados tem sido algo tão pouco comum para mim. Penso em todos os cultos da igreja em que estive semana após semana, ano após ano, falando e escutando sobre as necessidades das pessoas em todo o mundo. Penso em todos os sermões que preguei sobre servir aos necessitados. Até penso nos livros que escrevi, incluindo Radical, um livro sobre entregar nossas vidas por amor a Cristo e ao mundo que nos rodeia. Então, por que tem sido raro para mim ficar tão comovido com as necessidades dos outros a ponto de me levar a cair diante de Deus e chorar?
Não creio que esta pergunta seja só para mim. Quando penso em todos esses cultos de igreja, lembro-me de muito poucos casos em que outros cristãos e eu choramos juntos por pessoas às quais faltam água, comida, família, liberdade ou esperança. Por que uma cena como essa é tão pouco comum entre nós?
Eu me pergunto se perdemos nossa capacidade de chorar. Se temos protegido sutil e perigosamente, e quase sem saber, nossas vidas, nossas famílias e até nossas igrejas para que não nos afetem verdadeiramente as palavras de Deus em um mundo de urgentes necessidades espirituais e físicas ao nosso redor. Falamos muito sobre a necessidade de saber o que cremos em nossas mentes, mas me pergunto se esquecemos de sentir o que cremos em nossos corações. De que outra maneira podemos explicar nossa capacidade de nos sentar nos cultos, onde cantamos canções e ouvimos sermões que celebram como Jesus é a esperança do mundo, mas raramente (se é que alguma vez) choramos por aqueles que não têm essa esperança e agimos para que eles conheçam essa esperança?
Por que hoje parece que estamos tão distantes do caminho de Jesus? Jesus chorou pelos necessitados. Ele se compadecia das multidões. Viveu e amou para levar cura e consolo para os quebrantados. Morreu pelos pecados do mundo. Então por que nós, que levamos seu Espírito, não nos sentimos movidos e obrigados da mesma maneira? Seguramente, Deus não projetou o evangelho de Jesus para ficar confinado a nossas mentes e bocas na igreja, desconectado de nossas emoções e ações no mundo.
Seguramente algo precisa mudar.
Mas como? Quando me encontrei cara a cara, no chão da casa de hóspedes, não foi porque eu tivesse escutado um fato novo sobre o sofrimento no mundo ou mesmo feito uma nova descoberta na Palavra de Deus. No longo voo para a Ásia, de fato, eu havia escrito um sermão completo sobre pobreza e opressão, com números assombrosos sobre pobres e oprimidos no mundo de hoje. E o havia escrito a partir de uma perspectiva emocionalmente bem protegida e assustadoramente fria. De alguma maneira, olhar as estatísticas sobre a pobreza e até mesmo estudar a Bíblia havia deixado minha alma intacta. Mas quando me encontrei frente a frente com homens, mulheres e crianças com urgente necessidade espiritual e física, a parede do meu coração se rompeu. E chorei.
Claramente, a mudança que precisamos não acontecerá simplesmente ao ver mais fatos ou ouvir mais sermões (ou até mesmo pregá-los, neste caso). O que precisamos não é de uma explicação da Palavra e do mundo que coloque mais informações em nossas cabeças; precisamos de uma experiência com a Palavra no mundo, que penetre nos cantos mais profundos de nosso coração.
Temos que ousar enfrentar a necessidade desesperada do mundo que nos rodeia e pedir a Deus que faça uma obra nas profundezas do nosso ser que nunca poderíamos fabricar, manipular ou tornar realidade por nós mesmos.
Fonte: Radical